sexta-feira, 3 de julho de 2009

Que tal este cafezinho?






Sabe aquela ansiedade de quem esperou muito tempo por sua moto? Seja de um simples reparo na oficina a espera da entrada da sua primeira moto zerinha da loja? Pois bem, não são raras às vezes em que nós, da equipe DUAS RODAS, ficamos assim, ansiosos em alguns testes. E a avaliação da Bennelli TNT 1130 Café Racer é motivo suficiente para deixar qualquer piloto no mínimo curioso. A marca Bennelli, que tem origem Italiana, porém hoje controlada pelo grupo chinês Qianjiang, possui poucos modelos importados no Brasil. A 1130 Café Racer, que possui visual arrebatador e motor pouco convencional (três cilindros em linha), é um dos modelos que finalmente vamos ver de perto já que o Grupo Izzo passa a ser o importador oficial no Brasil.
O nome Café Racer faz referência a um movimento que aconteceu na Inglaterra na década de 50 onde motociclistas paravam nos cafés à beira da estrada para disputar rachas. A regra era colocar uma moeda no jukebox (aparelho de som com diversos álbuns musicais, comum na época) para tocar uma música que determinaria a duração do racha. Na época, as motocicletas recebiam modificações para se aproximar das motos de competição. Recuar as pedaleiras, instalar bancos tipo monoposto e substituir os guidões por semiguidões (guidão fixo diretamente nas bengalas) eram as alterações mais comuns na época. Todas essas caracerísticas estão presentes na Bennelli TNT 1130 Café Racer, com a diferença do estilo moderno que confere o design retilíneo e com muitos formatos angulares, como se a moto toda tivesse sido desenhada através de vetores.
Painel completo, com relógios analógicos de contagiros e temperatura, e display digital para velocímetro, odometros e hora do dia
Dá pra ficar um bom tempo comentando os detalhes de design, como o farol que é grande e possui formato triangular, o escape de saída única que divide as luzes de freio e lanterna ao meio, as curvas do escape em zig-zag ou as grandes aletas laterais do tanque que escondem os radiadores e incorporam as ventoinhas é só uma pequena parte do que faz essa moto chamar atenção. Aliás, tudo nesta Bennelli chama a atenção, a única ressalva fica para o acabamento, principalmente das peças de pástico, que poderiam ser melhores.

Coração triplo
Por baixo do quadro, que é tipo treliça com tubos de aço na dianteira e traseira fundida em alumínio, há um motor de construção interessante. Com três cilindros (como na maioria dos modelos da fabricante inglesa Triumph), quatro válvulas por cilindro, duplo comando no cabeçote e alimentação por injeção eletrônica. A potência máxima declarada é de 137 cv a 9.500 rpm e o torque máximo de 11,2 kgf.m que acontece aos 7.750 rpm. Os números de desempenho não impressionam para um motor de 1131cc que sem encarrega de levar 208 kg de peso, a seco, até a casa dos 250 km/h

O ronco do motor é bastante parecido com o som emitido de um quatro cilindros, porém, mais grave, típico deste tipo de arquitetura. Quando em marcha lenta, os ruídos internos são evidentes mas basta acelerar para o problema desapareça. Mesmo equipado com injeção eletrônica o motor apresentou alguns engasgos para sair da marcha lenta com movimentos rápidos do acelerador. A alta taxa de compressão em 11.2:1 pode ser um dos motivos, pois motores “taxados” necessitam de combustível de qualidade além de um bom trabalho de tropicalização.

Uso diário
Capacete, botas, macacão e luvas de couro e um sol de rachar o asfalto. Já estava mais do que na hora de avaliar o desempenho da TNT 1130 na pista. Também se demorasse mais um pouquinho o prato do dia ia ser cozido de piloto ao vapor. Completei algumas voltas em ritmo moderado para que pudesse notar características que são impossíveis de perceber pilotando esportivamente, além de aproveitar para me refrescar um pouco.

Fixação incomum dos retrovisores não atrapalha a pilotagem

Como na maioria das nakeds, a Bennelli Café Racer é maleável. Possibilita rápidas trocas de direção em qualquer velocidade. Porém, ela se mostra pouco versátil pelo banco monoposto, que impede o piloto de viajar acompanhado, e o curto grau de esterçamento do guidão que limita a agilidade da moto curtas manobras, bastante necessário no trânsito, por exemplo. A posição de pilotagem privilegia a esportividade sem exageros. Mantendo o piloto num meio termo entre uma naked e uma esportiva. A fixação dos espelhos retrovisores na extremidade das manoplas é interessante, achei até que pudesse atrapalhar na pilotagem, contudo não encontrei dificuldade alguma.
Achei que o acionamento da embreagem fosse mais leve devido a assistência hidráulica, no entanto, chega a ser mais rígida do que algumas motos onde a embreagem é manipulada através de cabos. Esta rigidez pode se traduzir em desconforto para o uso diário, sobretudo em situações de congestionamento. Por falar em uso, a capacidade do tanque em armazenar 22 litros de combustível prevê uma grande autonomia, bom para viagens ou mesmo para quem não gosta de visitar postos de combustível muitas vezes na mesma semana. Projetando um consumo médio de 15 km/l, já que infelizmente não pudemos fazer a medição de consumo pela a utilização na pista que gera números de consumo completamente diferente do que seria na estrada, a autonomia ultrapassaria facilmente os 300 km.

Na pista

Na utilização esportiva, a posição de pilotagem facilita que o piloto se desloque para uma postura agressiva. A agressividade do motor em praticamente todos os regimes de rotação e o pequeno curso do acelerador exige delicadeza do piloto no punho direito para que os trancos das acelerações e frenagens não desequilibrem a trajetória e nem atrapalhe a pilotagem.
Os freios, potentes e moduláveis, foram eficientes na tocada esportiva assim como o conjunto que apresentou boa estabilidade durante o teste. O único senão ficou para suspensão traseira que, apesar do bom comportamento nas saídas de curva, insistiu em manter a roda traseira em trepidação em fortes reduções durante as frenagens. Ambas as suspensões são completamente ajustáveis com regulagens de compressão, retorno e pré-carga da mola. Um trabalho mais afinado poderia solucionar o problema da roda traseira.
Ao final do teste estava satisfeito em ter rodado numa motocicleta tão exclusiva no Brasil. Embora mereça pequenos acertos, como na suspensão, no curso do acelerador, injeção e em detalhes no acabamento, mostrou ser uma ótima opção de moto, principalmente se a intenção for chamar a atenção.

Nenhum comentário: