sábado, 26 de julho de 2008
Queda de moto: Relato de um sobrevivente
Vou falar de um assunto desagradável: cair, tomar um chão, comprar um lote, beijar o asfalto, tomar um ralo, enfim, uma coisa que tem muitos nomes. Quando acontece a maioria prefere esquecer, apesar de alguns contar como se fosse uma façanha e com certo orgulho, minha intenção é falar a respeito com muita humildade, para que as pessoas pensem um pouco a respeito.
Como muitos já sabem, um dos capítulos do meu filme “Alma Selvagem, amor por motocicleta” trata dos Encontros Motociclísticos e para mostrar o que acontece em um deles, filmamos o Tiradentes Bike Fest de 2007. Portanto achei quase obrigatório ir para Tiradentes neste ano e disponibilizar o filme para o publico, o que fiz com a ajuda de grandes amigos.
Saí de São Paulo na manhã de quarta feira, muito animado com a viagem que seria solo, só eu e Cássia Eller (minha Guzzi Jackal 1100) além dos equipamentos que costumo utilizar: Jaqueta, calça, botas luvas, protetor de coluna e capacete integra. Depois de rodar quase 400 km, no final de uma serra antes de Lavras, nas pistas duplas da Fernão Dias e no fim de uma sequência de curvas (devo confessar que estava em velocidade elevada) aconteceu o imprevisto: entrei rápido demais numa curva e quando vi que não daria para contornar, só pude tentar diminuir o impacto e entrei com tudo na mureta central.
Parece incrível quanta coisa passa pela nossa cabeça em centésimos de segundos. Lembro que me preocupei em não passar por cima da mureta e cair na pista do sentido contrário. Parece que consegui (pois aqui estou), mas a pancada foi forte. Bati ainda em velocidade e fui ricocheteado de volta para a pista. Me vi caído no meio da pista e á minha direita ficou a moto. Por sorte não perdi a consciência, levantei imediatamente e vi que um cara grande já tinha parado no acostamento e corria em minha direção.
Num instante apanhamos a moto e a puxamos para o acostamento e um minuto depois passou uma carreta a milhão. Depois outra, outra e outra... Tive sorte em ter caído nessa pequena pausa, que foi no momento certo, pois poderia ter virado um hambúrguer temperado com micropedaços de Guzzi.
Depois de alguns minutos, ajudado por algumas pessoas que pararam, verificamos que eu estava bem, sem nenhum osso quebrado e com o raciocínio claro, então eles me "deixaram" continuar a viagem. Parei numa borracharia para desentortar o pára-lamas e vi que quebrou o farol principal e um auxiliar, o suporte das bengalas, espelho, guidão torto, manoplas, pedal do cambio e cavalete lateral.
As bolsas rígidas laterais salvaram os cabeçotes proeminentes do motor da Guzzi, ufa... Demos um jeito em tudo, a moto continuava alinhada e fui em frente, até Tiradentes, que já fervilhava com a chegada de gente de todo o país. O principal porém, e este é o motivo de eu estar escrevendo esta matéria, foi o que NÃO aconteceu comigo por um único motivo: estar muito BEM EQUIPADO e claro, um anjo da guarda profissional.
Eu estava usando equipamentos dos meus parceiros no filme: jaqueta e calça de cordura SBK, luvas, botas, protetor de coluna da BannyPel e capacete integral da CMS. Normalmente uso capacete jet, mas em estrada uso quase sempre um integral. Se nesse dia estivesse com o casco aberto, rasparia minha barbicha (minha mãe a odeia) sem usar barbeador.
As proteções nos ombros, cotovelos, pulsos e joelhos ficaram no asfalto. As luvas grossas foram comidas até pegar muito de leve na minha pele. O protetor de coluna impediu maiores torções. Agora, mais do que nunca, entendo a importância de andar equipado, especialmente na estrada. Claro que foi um chãozinho de leve, mas se estivesse menos protegido, com certeza estaria muito ferido e seria obrigado a ficar vários dias de molho.
Nem todos os motociclistas são imprudentes como fui durante esta viagem, entretanto imprevistos acontecem e espero que muitas pessoas entendam a importância de investir em equipamentos de segurança. Olho a minha mão e penso no estado que estariam se estivesse sem luvas...
Depois do acidente, no dia seguinte, achei que não conseguiria nem andar, mas como a alma é selvagem e eu tinha uma missão a cumprir, comecei uma maratona em Tiradentes, que durou até o fim do evento. Mesmo andando meio de lado, consegui fazer tudo o que precisava e desta vez posso dizer que consegui viver plenamente o Tiradentes Bike Fest. Agora entendi melhor o que motiva tanta gente a viajar de moto para se encontrar.
Fiz tantos novos amigos que nem começo a escrever, senão fica longo e ainda por cima corro o risco de esquecer de alguns. Fotos de lá eu não tenho, pois a câmera fotográfica quebrou na queda, mas tenho imagens em vídeo, que depois pretendo editar e publicar.
O mais importante desta viagem foi que aprendi muitas coisas: Deixar de ser idiota e andar devagar nas estrada, pois as mesmas são não pista, não tem área de escape e nem brita. Também aprendi que vale muito a pena investir em equipamentos de segurança e que a atenção nas estradas deve ser redobrada pois dois centésimos de segundo de distração anulam várias horas de concentração.
A vida é boa demais para ser colocada em risco tão estupidamente e espero que meu relato sensibilize outros motociclistas. Se isso acontecer, o relato do meu acidente terá sido útil. Nos vemos nas estradas!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Este post é antigo (rs 2008), mas na ultima terça feira 07/10/2014, cai um tombo, um cachorro atravessou a avenida, não consegui desviar e fui para o chão... com certeza se estivesse com os equipamentos corretos, os ralados (E foram muitos rs), poderiam ter sido evitados.
Grande Abraço
Postar um comentário