sábado, 26 de julho de 2008
Estradas para o inferno
Uma enorme interrogação tomou conta dos entrevistados por DUAS RODAS. Diretores das concessionárias de rodovias e até especialistas em segurança no trânsito não entendiam por que uma boa estrada para os automóveis pode ser perigosa para o motociclista. Sabendo que a maioria das rodovias brasileiras cobrarão pedágio do motociclista a partir de 2008 perguntamos como seria uma estrada segura para as motos e quais alterações foram feitas pensando na segurança deste público. Nossas questões foram respondidas com outras perguntas ou, simplesmente, a recusa em dar entrevista sobre o tema.O que poucos entendem é que projetar rodovias seguras para os motociclistas não significa construir faixas exclusivas. Itens de sinalização e segurança úteis para automóveis e caminhões podem ser potenciais causadores de acidentes com motociclistas. Nos últimos anos a Espanha se transformou em um exemplo de como o que já existe nas estradas pode ser adaptado para um formato mais seguro pensando em quem viaja de moto: adotaram um guard-rail de plástico reciclado que protege o corpo humano em caso de queda e elimina o vão embaixo do guard-rail de aço, que deixava os postes de sustentação expostos, além de absorver o impacto sem empurrar a pessoa ou o veículo de volta para a pista. Até três anos atrás os guard-rails eram como os brasileiros, uma chapa de aço sustentada por postes também metálicos que suportavam o impacto de 80 kg a 60 km/h. Depois de campanhas e protestos contra os postes que, em caso de queda na lateral da pista, causavam fraturas e amputações, a Espanha foi pioneira na Europa ao instalar o guard-rail de plástico.
O preço dos acidentes
Infelizmente, o que qualquer motociclista sabe ou já escutou numa roda de amigos se mantém um mistério para quem deve zelar pela segurança. “Não fazemos distinção no tratamento dos veículos”, explica Evandro Viana, diretor da concessionária paranaense Ecovia, que já instituiu a cobrança de pedágio para motos no trecho entre Curitiba e Paranaguá – a tarifa já é cobrada em boa parte das rodovias de Rio de Janeiro e Paraná, e em 2008 deve chegar à maioria das rodovias em outros Estados. O comentário de Viana até pode sugerir uma política de igualdade no tratamento, mas é prova de desinformação. Assim como ele, outros concessionários se limitam a mencionar obras e serviços. “Duplicamos a pista, construímos acostamentos e promovemos campanhas de conscientização duas vezes por ano, mas o usuário de motos é tratado como qualquer outro, dispõe de guincho e serviço médico”, completa o diretor da Ecovia. Nos casos das concessionárias ViaLagos e CLN, que também cobram a tarifa das motos e administram, respectivamente, rodovias nos litorais fluminense e baiano, os diretores não quiseram comentar o assunto.
Pior foi descobrir que os órgãos que fiscalizam as condições de segurança nas ruas e estradas também desconhecem o assunto. Procuramos o Conselho Nacional de Trânsito (Contran, órgão federal que aprova os itens de sinalização e segurança usados nas vias), a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET, municipal, projeta ruas e avenidas) e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER, órgão estadual que aprova os projetos das concessionárias para as estradas). Fomos informados pelas três assessorias de imprensa que não há um especialista em engenharia viária apto a explicar o que seria uma via segura para motos.
Prova que a maioria das estradas não está preparada para as motos, nem seus administradores. Apesar disso, concessionárias de rodovias estaduais que ainda não cobram pedágio do motociclista já avisaram: pretendem cobrar a tarifa a partir de 2008. A justificativa se repete, e (por razões óbvias) nada tem a ver com o desgaste do asfalto pelo tráfego de motos. “Nos últimos anos, o número de motos na rodovia cresceu e, na mesma proporção, o de acidentes e custos com resgates”, defendeu Maurício Negrão, presidente da NovaDutra, quando instituiu a cobrança na ligação Rio-São Paulo, em maio. Mais sensato seria primeiro adequar as estradas às necessidades dos motociclistas, em vez de cobrá-los pelo custo extra com os resgates.
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