segunda-feira, 31 de maio de 2010

Reflexões sobre uma motocicleta


Ali, parada na garagem, não passa de um monte de peças de aço e ferro unidas por parafusos, porcas e arrebites sem fim. Não necessariamente importa a marca, Honda, Suzuki...Mas ela está ali. Pronta para um mundo de emoções e lembranças. Coisas que carros, aviões, bicicletas não conseguem conceber. É a chave para um sonho, com direito a chuvas, ventos, brisas e paisagens. Nas custons parece que o tempo passa devagar, com a pressa de um ancião. É a solidão irrevogável do sempre feliz. As do tipo cross são como adolescentes. Não medem desafios. Vão, sobem paredes com a leveza de um voo. Nas esportivas a vida tem um sabor de ontem. Pois o agora não passa de um monte de sentimentos misturados. É a adrenalina nos olhos, no cérebro. A atenção aos mínimos detalhes em forma de curvas. O ronco e a velocidade trazem o sabor e o cheiro do inconcebível. Da imortalidade. É o desafio do tempo. É o chegar antes para só sentir depois.
As motocicletas têm vida e personalidades próprias. Elas são o complemento das almas livres. Não cabem dois em uma motocicleta. Mesmo levando garupa a emoção é uma só. Para muitos ela significa liberdade. Para outros a pressa de chegar, ou não, hoje. Não há significado para a motocicleta. Apenas significantes. Uma motocicleta entre as pernas pode significar tudo, ou nada. Um homem em uma moto é um ser medieval. Uma mulher em uma moto é uma obra de arte. Homens e mulheres podem amar as motocicletas. Mas amam diferente. Coloque uma motocicleta frente a um grupo de crianças. Todas vão olhar. Umas com olhar distante. Outras com admiração e medo. No mesmo grupo, porém, uma se moverá incondicionalmente de encontro à moto, com a alma e os braços abertos. Esta criança não irá se contentar até tocá-la, montá-la e dominá-LA. Para esta, a moto sorrirá e lançará todo o seu poder de fascínio e sedução. E este efeito será para sempre. Irremediável. Aquelas crianças que apenas admiraram e temeram as motocicletas foram aquelas que cresceram e, sem qualquer explicação, hoje odeiam motociclistas atrás dos volantes dos seus carros, caminhões e ônibus. Se pudessem, matavam a todos nós. Apenas por admiração e medo.

Elson Liper

Um comentário:

Fernando Dias disse...

O melhor texto sobre motos que já li. Parabéns