terça-feira, 21 de abril de 2009

MACHU PICHU é logo alí






A maioria das pessoas gosta de viajar, seja como for, de barco, avião, ônibus, carros. Mas de moto são poucos aqueles que o fazem. Acompanhe este emocionante relato da viagem de dois amigos (Galdino Gabriel e Fábio Pompeu) que em 14 dias fizeram o roteiro Fortaleza-Peru- Acre em duas Shadows 650.

18.10.2008, um Sábado - Primeiro dia... Largada em Fortaleza-Ce, chegada em Floriano-Pi - Às 9h43, acionei o GPS para nossa aventura. O local foi no inicio do anel viário. Pela CE-040, teríamos quase 700 km, se a média fosse 80 km/h, ainda chegaríamos com o sol. Com os devidos cuidados, pegamos a BR-020 em direção a Canindé. O que se faz em cima de uma moto, sozinho, nestas horas? Olha-se a paisagem à direita, à esquerda, em frente e pensa. Uma hora se está pensando na viagem, outra na moto, na maioria das vezes, na vida. Dá tempo pra pensar como ela foi, o que foi bom, o que foi ruim, de como ela será. Canindé passou, em Madalena foi o primeiro abastecimento. Boa Viagem veio em seguida, Tauá. Pegamos a BR-230 em direção a Picos. Esta é a lendária Transamazônica, apos varias consultas, nos aconselharam a não usá-la, no sul do Pará não tem asfalto, é só terra, e muita poeira. Mesmo assim, seguiríamos nela até Estreito-Ma. Até aqui, o asfalto estava perfeito. Após Picos há um entroncamento que vai pra Teresina, a esquerda na BR-230, passando em Oeiras, a primeira capital do Piauí. Chegamos em Floriano às 17h47, após exatos 702 km. Procuramos um hotel com garagem e que fosse confortável, que tivesse um restaurante. A idéia sempre foi chegar e dormir, nada de passeios, o objetivo era “andar” de moto.

19.10.2008, Segundo dia... Destino: Estreito-MA, na Belem-Brasilia - Acordamos tão cedo que ainda não tinham servido o café da manhã. Estávamos na ponte que divide o Piauí do Maranhão, no rio Parnaíba às 7h46, e lembrar-m-nos de perguntar em Balsas como estaria a estrada que vai até Miracema do Tocantins, passando por Alto Parnaíba, nosso roteiro inicial. A moto pede combustível, tranquilamente vou no registro e vejo que se encontra na posição de reserva, olho o odômetro, está marcando uns 300 km, estou no prego de gasolina, vou pro acostamento para esperar o parceiro, olho pra trás e nada parecido com moto, o cara tava no prego, também. Olho pra frente e vejo um carro entrando no asfalto, saindo do nada, deve ser um posto. Balanço a moto, ela pega e vou andando bem devagar. Chego, abasteço e vou socorrer o Fábio. Chegamos às 16h36, totalizando 666 km em 8h49, uma media de 75 km/h e já vimos um hotel, e com garagem e um restaurante ao lado.

20.10.2008. Terceiro dia... Destino: Porangatu-Go. 19 anos sem o seu Oscar, meu pai - Acordo com a televisão ligada, Fábio já tomando banho, era três horas da manhã, o cara não dorme. Na estrada, ás 4h58, era uma neblina que não dava pra ver 10 metros, uma placa antes da ponte dizia que era a divisa do Maranhão com Tocantins. Logo em seguida um entroncamento, a BR-230 seguia para o Pará, e nós descíamos, seguindo a BR-153. Passamos num cruzamento com acesso a Palmas, a capital do estado, vários postos rodoviários. Outra parada de abastecimento em Gurupi-Go, a cidade ainda festejava a eleição do prefeito, disse o frentista que ele mandou assar 100 bois. Chegamos em Porangatu ás 15h27, andamos 847 km em 10h29, uma media de 81 km/h. O tempo estava nublado e parecia que ia chover muito a qualquer hora.

21.10.2008. Quarto dia... Destino: Barra do Garças – MT, a terra do ouro - A noite toda choveu, arrumamos a bagagem e ás 7h02 estávamos novamente na estrada, rumo ao Mato Grosso. Iríamos deixar a BR-153 em Jaraguá, pegaríamos a BR-070, no mapa dizia que em Itaberai pegar para a cidade de Goiás, que a BR-070 também iria descer, esquisito. Entramos na cidade e perguntamos, teríamos que pegar uma estadual e seguir nela, iria encontrar a BR-070 e chegar em Barra do Garças. Fizemos tudo certo, erramos quando entramos na cidade de Goiás, aproveitamos e almoçamos lá. De volta, na BR-070, a estrada tem um pequeno trecho sem asfalto, um desvio com uma ponte de troncos de madeira, estava neblinando e passei no susto, vai que escorrega. Voltamos ao asfalto e estávamos em Aragarças-Go. Era só atravessar a ponte do rio Araguaia e estávamos em Barra do Garças-Mt, terra do ouro, isso nos anos 70, hoje não tem mais garimpagem. Andamos neste dia 670 km em 9h27, uma média de 71 km/h, 16h29 no nosso relógio, no deles: 17h29.

22.10.2008. Quinto dia... Destino: Cáceres-MT, passando por Cuiabá, capital do Estado e Chapada dos Guimarães - Era 5h50 quando liguei o GPS, o dia estava nascendo. O visual era o mesmo, pastos, gado e vasta plantação de soja. Em um abastecimento, o dono do bar nos aconselha a ir pela Chapada dos Guimarães, é que na subida da serra estão consertando. Chegamos em Cáceres às 15h30, na Policia Federal fomos bem recebidos após contar que estávamos vindo do Ceará e queríamos ir até o Peru em uma viagem de passeio. Deram-nos uma permissão (foi importante para as outras permissões, na Bolívia e no Peru) e que devolvêssemos no primeiro posto, ao entrar no Brasil. Mais em frente, um posto policial, com policia federal, receita federal, policia estadual, paramos e mostramos a documentação, a receita ainda questionou sobre uma autorização pra sair com as motos, como estava em nosso nome não teria problema na entrada no Acre. Pegamos uma estrada de terra e mais policiais brasileiros, mesma conversa. E na próxima curva, uma barreira do exército boliviano. Estávamos na fronteira, anotam nossos nomes e pedem uma “colaboracion”, seguimos para San Matias. Era 18h15, andamos 853 km em 12h22, média de 67 km/h. Passamos pela praça principal, encontramos um hotel, estava lotado. Alguém, num Suzuki, tenta me explicar que está construindo um hotel no sitio dele, tem uns quartos já prontos, seria R$25,00 cada, sem café com garagem. Ficamos cada um num quarto. Após um banho frio, fomos jantar e procurar uma internet, que não encontrei, parece que não tinha ou não me entenderam (quando perguntei em uma mercearia, a mulher veio com uma lata de sardinha). Vou dormir com uma péssima impressão da Bolívia.

23.10.2008. Sexto dia... Destino: Conception-BO - No posto da Imigração já tinham vários na fila, somente nós com passaporte e permissão brasileira. O funcionário chega, atende e cobra R$50,00 de cada um. Na nossa vez mostramos o passaporte, pergunta quantos dias, e anota dez na “permission” boliviana. Na saída da cidade, abastecemos as motos e trocamos alguns dólares por bolivianos (a moeda do país), e pegamos a estrada. Tínhamos andado uns 120 km, uma barreira do exército, um povoado (Las Petas) e uma placa indicando que tinha gasolina. Chegamos em San Ignácio, na travessia vemos uma cidade diferente, casas com outro estilo, depois soube que tinham influencia espanhola, mais agradável. Mais um abastecimento, na saída um posto policial, anotando todos que passam e mais barro. Tínhamos andado uns 30 km, encontro o Fábio parado, com o pneu traseiro furado. Achamos o prego que ocasionou o furo, a solução seria voltar, trazer um reboque, colocar a moto em cima, retornar para San Ignácio e fazer o conserto. Encontrei um caminhão que faria o frete, falou que mais 50 km iríamos encontrar uma cidade chamada Santa Rosa, e, poucos quilômetros apos um asfalto e Conception, uma cidade grande e com estrutura. Achamos melhor seguir em frente, ao invés de voltar. Chegamos em Conception, já escuro, era 20h28, tínhamos andado 535 km em 14h41, o borracheiro (lá se chama “Gomeiro”, borracheiro é cachaceiro) não queria consertar naquela hora e nem tirar o pneu da moto, o jeito foi procurar um hotel. Resolveríamos no outro dia.

24.10.2008, uma Sexta-Feira. Sétimo dia... Destino: Santa Cruz de La Sierra-BO - Acordamos cedo e ficamos olhando umas fotos na recepção dos ilustres hóspedes. Tinha uma do Rei e Rainha da Espanha em visita a cidade. Em frente, uma praça e uma igreja, esta mais parecia um convento, no mesmo estilo espanhol, assim como várias construções dessa e de outras cidades que passaríamos. Estávamos na estrada às 11h48, e até Santa Cruz, apenas 290 km. Não tinha mais as barreiras do exército, vários pedágios, moto não precisa pagar, soube disso apenas no segundo, o primeiro recebeu os B$10,00 e não disse nada. Várias cidades, muita gente na beira, até parecia feira, paramos atrás de uma fila de carros e caminhões, esperando a vez para passar na ponte do rio Monte Grande, ponte de ferro, construída pelos americanos, com piso de madeira, para o trem e outros veículos. A travessia começou bem, escolhi o meio, entre os trilhos. Na primeira tábua com buraco, passei pra direita, quando vi a altura e o restante da ponte, voltei para o meio. Dois mil metros, 2 km de extensão, o troço não acabava, embaixo um rio seco, água só no inverno, ao lado tinha uma construção de uma nova ponte, dessa vez de cimento. Chegamos em Santa Cruz às 17h48, 289 km rodados em 5h59. Um trânsito infernal, a cidade tem as ruas em forma de uma espiral seguindo para o centro. Paramos um taxi e explicamos que queríamos um hotel com garagem. Fácil pra quem sabe. Passeamos um pouco, muita gente ainda no centro, vários restaurantes com telões, passando filmes, todos lotados.

25.10.2008. Oitavo dia... Destino: Cochabamba-BO - Arrumamos a bagagem no escuro, nem esperamos o café. Contratamos um taxi para nos deixar na saída da cidade. Iríamos pela melhor estrada, por Monteiro (existe outra, é a mais antiga e mais perto). 5h27, as ruas sem transito ficaram mais largas. e fomos vendo outra cidade. Construções modernas, avenidas largas, postos decentes, enfim digna da maior e melhor cidade da Bolívia, mesmo não sendo a capital. Mais pedágios, povoados, asfalto excelente, ainda estamos na região baixa, a Cordilheira veio aparecer 300 km depois, em Vila Tunari, suavemente íamos chegando a 1.000, 2.000 m. A moto começa falhar. Chegamos a 3.000, o visual muda, acaba a vegetação e o que se vê são montanhas com pedras. Chegamos em Cochabamba as 14h24, foram 464 km em 8h57, estávamos a 2.500 m acima do mar. Paramos em uma igreja ao lado da estrada, no alto, antes da cidade, para fazer uma foto. As pessoas mudam, se vestem diferentes, muito colorido, mas tem os dois tipos, estávamos na região boliviana dos campesinos e indígenas cocaleiros. Uma cidade moderna, até aqui. No restante da viagem não íamos ver mais esta modernidade. Encontramos um hotel cinco estrelas, com garagem, B$350,00.

26.10.2008 Nono dia... Destino: Puno no Peru, passando por La Paz, a capital da Bolívia - Como sempre foi, acordamos ainda no escuro, uma hora pra arrumar as bagagens, um café mais ou menos pedido na noite anterior, nenhum taxi no caminho, o jeito foi ir tentando, se perdendo, perguntando, até achar a saída. Na avenida já saindo, o Fábio diz que perdeu os óculos, voltamos até a ‘gomaria’ e nada, desistimos e acionei o GPS na estrada às 7h37. Alguns kms apos, uma Van virada, foi o primeiro e único acidente que vimos nesta viagem inteira. Daqui pra frente, seria um sobe e desce, chegando a 4.600 m de altitude. Trocamos o filtro de ar para um com esponja, na do Fábio teve que tirar total, pra ver se a moto desenvolvia. A estrada boa demais e com pouco movimento, nos povoados, gente muita na beira da estrada, gasolina tinha em qualquer quiosque. O visual era muito diferente, montanhas pra todo lado, picos de neve, nuvens parada no topo delas, e muito frio, duas luvas não dava conta, aqui acolá tinha que esquentar as mãos no motor. Minha moto começa a faltar embreagem. Em um desses altos, avistamos La Paz. Fica em uma planície. É uma cidade sem muitos prédios, ao lado de uma montanha com formato de um vulcão e neve no topo. Era um domingo, perto do meio-dia, e na avenida que dava acesso também para a saída da cidade, o que se via era Van. Tinha umas mil, um engarrafamento só, e eu sem embreagem. Fui “costurando” o transito, um guarda me manda parar, faço que não entendo, estava com a moto quebrada e seguia em frente. Chegamos na fronteira, Desaguadeiro. Existem duas pontes, uma para os caminhões, a nossa seria entrando na cidade, e margeando o grande lago Titicaca, o mais alto do mundo. Tivemos que pedir uma autorização da Aduana (Receita Federal) para transitar com as motos. Chegamos em Puno às 19h22. Foram 566 km em 11h45. O hotel escolhido foi o primeiro que vimos, na beira da estrada. Todos os quartos estavam de frente para o Lago Titicaca.

27.10.2008. Décimo dia... Destino: Cuzco. Nunca esquecerei este dia - Amanheceu chuvoso, apenas 400 km para Cuzco. Arrumamos a bagagem no mesmo ritmo, devagar, nada de se esforçar, faz mal pra quem está nessas altitudes. Recusei até as folhinhas de coca que tinha na recepção. No acostamento, em frente ao hotel, coloco o blusão de frio, não chovia, mas o céu estava nublado. Atravessamos a cidade no calçamento molhado, um desvio de uma obra, entre ruelas, uma subidinha pra finalizar e um abastecimento. Mais uns 40 km e sinto falta do protetor de pescoço, devo ter esquecido no hotel. Voltamos (tínhamos andado uma hora até aqui). Valia a pena voltar? Tinha escondido U$500,00 nele. E se tivesse caído no caminho? A volta toda por dentro da cidade, o hotel ficava três kms depois, a chuva começava a engrossar. Ao se aproximar do hotel, avisto no asfalto o protetor, meio enrugado. Algum carro passou por cima, procuro os dólares. E estão lá.

Na frente, alguns caminhões parados, e mais pedras. Um motorista fala que os campesinos estavam protestando e ninguém passava. Um nativo nos ensina uma trilha para desviar da ponte fechada. Tentamos e avistamos de longe a multidão no local. Desistimos da trilha e decidimos encarar. E se estivessem armados? Estava eu negociando quando fomos cercados, uns com paus, outros com pedras, gritando “NÃO PASSA”. Falava que era brasileiro, do nordeste, turista, dez dias na estrada, queria conhecer Machu Picchu, chamava-os de “irmanos”, tentava apertar algumas mãos (parece que esse gesto lá sela uma grande amizade). As indígenas eram as mandonas. Nos olhavam com ódio, dizendo que não nos queriam ali. Felizmente um aparece e explica que nós não tínhamos nada a ver com o protesto, que eles deveriam nos deixar passar e chegar ao nosso objetivo. Seguimos em frente, sem olhar para trás. Na frente multidão, mais pedidos, mais sermão, e íamos passando, contei umas dez paradas dessa. Na penúltima, tivemos que ficar no centro, e suplicar para eles, sentados em círculo. A última estava uma mulher discursando. Uma pessoa aponta pra calçada, dizendo que poderíamos passar por ela. Fomos passando e agradecendo. Até outro dia, adeus. Ainda procuro saber porque passamos. Um dia, vou lá, só pra perguntar. Chegamos em Cuzco às 18h47, 392 km rodados em 8h16, média de 47 km/h. Fomos direto para a Plaza das Armas, comemorar a chegada. Aparece uma guia, que nos leva até o hotel Prisma, o único que reservamos, e ainda nos vende um pacote pra conhecer Machu Picchu por U$300,00, cada.

28.10.2008. Décimo primeiro dia... Machu Picchu, a cidadela perdida dos Incas - As motos ficaram no estacionamento do hotel, descansando, ainda tinha mais dois dias de viagem e uns 350 km de terra, descendo a Cordilheira. Um taxi nos pega no hotel às 6h, nos deixa na parada do ônibus que iria até Ollantaytambo. Lá pegaríamos um trem para Águas Calientes e outro ônibus subiria para Machu Picchu. A tardinha descemos de ônibus. Chegamos em Cuzco quase meia-noite. Chegar aqui, ver tudo isso, sentir o clima. É particular de cada um. Só vindo, pra ver.


29.10.2008. Décimo segundo dia... Destino Porto Maldonado. Descendo a Cordilheira - Mesmo dormindo tarde, agora mais relaxado depois do dia mágico conhecendo a cidadela perdida dos Incas, estamos acordados às 5hr, arrumando a bagagem, nos preparando para encarar a volta. Poucas pessoas a beira da estrada, mais crianças com fardas escolares, vimos algumas construções antigas demolidas, algumas paredes no meio do nada, alguns lagos. Logo após Urcos, uma placa indicava a distancia para Rio Branco, Acre, Brasil. Seria um trecho recentemente inaugurado com 150 km de asfalto, parte da rodovia chamada de Transoceânica. Um asfalto novíssimo, subindo e descendo as montanhas, imagine estar a 2.500m acima do mar e logo em seguida a 4.500. O visual lembrava muito uma janela de avião, embaixo tudo muito pequeno. Na estrada somente nós e um carro branco com duas ‘senhoras’. O asfalto acaba, um operário explica que devemos ir agora pelo desvio da esquerda, seria uns 300 km de terra ainda na cordilheira Tinha hora que estávamos na frente, outra que era o carro, subindo e descendo naquele barro molhado. Tentei me distanciar, estava a 4.600m e iria descer do outro lado, uma freada errada, a moto deitou e escorreguei uns 50 metros, parou em um arbusto, a beira do abismo. Fiquei deitado, esperando o Fabio. Nisso me aparece as duas ‘senhoras’ que rapidamente levantam e puxam a moto para a estrada. Passado o susto, pedi pra elas irem na frente e encaramos as próximas descidas com mais cuidado. Chegamos em Marcapata, onde as ‘senhoras’ iriam ficar, pois estavam trabalhando em um projeto educacional. Agora era só descida, algumas travessias de rio.

Num povoado uma barreira policial, dava cobertura para uma ‘chica’ que fechava a estrada por causa das explosões que iria ocorrer, e liberaria somente as 18hrs. Ficamos ali conversando. Tinha um bar em frente, um grupo, estava jogando porrinha, aos berros, parecia que ia ter briga. A idéia era dormir em Mazuco, estávamos há 50 km. As 17h30 fomos liberados. Arrancamos na frente pra evitar poeira. Chegamos num asfalto, mais uns 10 km e estamos em Mazuco. Já era noite, procurei um hotel, a multidão na rua, uma confusão total, seguimos em frente, seria 180 km para chegarmos em Porto Maldonado. Já era meia-noite, e ainda estávamos naquela estrada, em uma dessas paradas, perco a minha vez e o Fabio vai embora, e eu fico com a moto sem pegar. Um operário ainda tenta me ajudar, desistiu, pede pra eu ficar esperando, que vai arranjar uma camioneta e me levaria pra Porto Maldonado. Um motoqueiro passa, peço ajuda, ele nem liga, vai embora. Alguns minutos aparece uma luz vindo. Era o motoqueiro voltou só pra me ajudar. Empurrou, pegou. Fui logo contratando o cara, era pra irmos juntos. Mais em frente encontro o Fabio, estava há horas esperando. Fui na frente com o meu problema de bateria. Parei em um posto policial já perto da cidade, e esperei o Fabio e o motoqueiro. Horas depois chega apenas o Fabio. Tinha sido jogado fora da estrada por um caminhão, machucou o joelho, quebrou a pedaleira, o bagageiro está todo frouxo. Em Porto Maldonado procuramos um hotel, já conhecia a cidade, em 2006 apurei o rally Bolpebra (Rio Branco - Cuzco) e havia pernoitado aqui. Eram 3hr17, percorremos 477 km em 18hr33, que média.

30.10.2008. Décimo terceiro dia... Destino Rio Branco, Acre, Brasil . Chegamos e ainda tinha mais - Acordei com vontade de comprar uma bateria nova. Na recepção peço pra chamar um moto taxista. Ele chega, falo que quero comprar uma bateria, ele é mecânico, já tira as chaves, desmonta a moto, não consegue tirar a bateria, empurramos, passamos um tempo com a moto ligada, carregou, desliga e liga, ficou boa. Foi contratado pra nos guiar ate o porto, para atravessar as motos na balsa. Às 9hr40, estávamos do outro lado do rio. Um pequeno trecho ainda de terra, uns 50 km, depois foi só asfalto. Devolvemos a “permission” e a autorização da Aduana. Atravessamos uma ponte e já estamos no Brasil, em Assis Brasil. No posto, devolvemos a permissão brasileira, tudo isso regado com a estória de nossa aventura. A alegria era tanta que passamos por um posto e nem percebemos que devíamos mesmo era completar o tanque. Faltando quase 50 km para Brasiléia, falta gasolina na moto do Fabio. Reboquei mais uns 30 km, depois foi a minha que também ficou sem gasolina. Avistamos uma camioneta, fizemos sinal e ela parou. Pedi carona. Compra um vasilhame, gasolina, taxi, voltar, duas horas de atraso. E mais estrada. Em um restaurante paramos pra jogar água no radiador, estava entupido, muito barro, piche. Chegamos em Rio Branco às 22hr55, depois de 574 km em 13h14.

31.10.2008. Décimo quarto dia... - Destino Fortaleza, Ceara, Voando - Um café da manha, bem brasileiro e direto pra uma transportadora. Teria que engradear a moto, mandar pra São Paulo e reembarcar por outra para Fortaleza. O Geovane, um piauiense, amigo nosso, já acreano, nos ajuda e encontra uma carreta que estava saindo naquele dia. Simples, pagamos, nos deu uma nota fiscal, aguardasse uns 15 dias. Na revenda, entramos na internet e compramos as passagens. Teria um vôo saindo as 17 horas, o tempo para almoçar, pegar as coisas no hotel e ir. No aeroporto, aquele drama. O Fabio apresentava um estado deprimente, não conseguia nem andar direito. Contei a aventura para o encarregado pelo embarque, o que ocorreu com ele, etc. e tal. A partir daí tudo mudou, foi tratamento cinco estrelas, cadeira de rodas, primeiros assentos na aeronave, prioridade no embarque, bajulação total dos comissários durante o vôo. Já era o dia seguinte quando desembarcamos em Fortaleza, e cada um pra suas casas. Combinamos em 2010, voltar, dessa vez outro roteiro, o mar de sal, as linhas de Nazca, o deserto de Atacama, novamente Machu Picchu, Titicaca.

Galdino Gabriel, gabriel@fortalnet.com.br, 85.9982.5304, nascido em 1952, endurista desde 1985, participou de dois enduros da Independencia, organizou o 1º Cerapio em 1987, navegador de rally deste 1989, participou de tres rally dos Sertões, organizou o 1º enduro nos Lençois Maranhenses em 1998, em 2000 navegou o troler 343 no Dakar-Cairo, fundador da Federação de Motociclismo do Ceara em 1996.

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