segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Comparando GT com a Ninja 250






Quando um europeu consegue a primeira habilitação não pode comprar uma esportiva de 1.000 cc. Existem restrições ao tempo de experiência, que criaram a categoria das pequenas esportivas, da qual fazem parte Kawasaki Ninja 250 e Kasinski GT-R 250 (na Europa, Hyosung). O design esportivo faz tanto sucesso lá quanto no Brasil, como prova o número de cartas e e-mails recebidos pela redação da revista nos últimos meses, perguntando por estas duas 250. Apesar da Ninja 250R ainda chegar em pequeno número por importadores independentes, já são freqüentes as dúvidas e sugestões de um comparativo entre as duas. Para antecipar todas as respostas, antes mesmo do lançamento oficial no País, viajamos a Florianópolis (SC) e levamos a Comet para um teste com o proprietário de uma Ninjinha, o leitor Emídio Ribeiro.
O ponto de encontro foi a Rodovia Interpraias, que liga Itapema e Balneário Camboriú, antes de Florianópolis. Nos cumprimentamos, estacionamos as motos lado a lado e pedi a ele que me contasse suas impressões. A Kasinski impressionou pela esportividade, usa componentes comuns a Comet 650 como tanque, carenagem, freios, painel e até parte do quadro e suspensões. Aparenta ser uma moto maior, quase uma grande esportiva. "A GT-R impressiona à primeira vista, parece até mais esportiva que a minha Kawasaki", admitiu Emídio. Já a Kawasaki é o resultado de um projeto que nasceu para ser uma 250, que oferece conforto e maneabilidade com visual esportivo, sem exageros. Possui banco em dois níveis e carenagem integral com a mesma identidade das grandes esportivas Kawasaki, mas que permite se manter ereto e pilotar confortavelmente. O acabamento também faz jus à tradição do nome Ninja: plásticos, encaixes e pintura impecáveis, com materiais de qualidade visivelmente melhor. Na Kasinski, chama atenção a falta de cuidado na fixação da rabeta, unida por dois parafusos aparentes atrás do assento. Alguns minutos depois, rodando de volta no sentido Norte, agora com as duas motos, as hastes dos retrovisores da GT-R insistiam em se movimentar com a força do vento. O duplo disco de freio na Kasinski vão além da estética e apresentaram um poder de frenagem maior que sua concorrente verde .No acabamento a Kawasaki leva clara vantagem e o funcionamento do motor é mais linear.As posições de pilotagem são distintas, a Kasinski reforça a primeira impressão de esportividade, enquanto a Kawasaki tem uma proposta de moto urbana que privilegia o conforto e a agilidade, como já fazem supor os pneus com as mesmas medidas de uma street 250. Os semi-guidões da GT-R, fixados abaixo da mesa, projetam o piloto para frente, que quase se debruça sobre o tanque. O banco relativamente baixo (780 mm de altura) e as pedaleiras recuadas impõem uma posição de pilotagem esportiva. Na Kawasaki, o contrário: semi-guidões fixados acima da mesa, banco 10 mm mais alto (790 mm) e pedaleiras mais à frente. O resultado é uma posição de pilotagem agradável, com braços relaxados e pernas menos flexionadas.
A prática e a impactante
Outra diferença está na suspensão dianteira. A GT-R utiliza bengalas invertidas com tubos de 41 mm na dianteira, o que ocasionou um menor ângulo de esterço e aumento de peso. Na Kawasaki a suspensão dianteira é tradicional e o uso de tubos de 37 mm possibilitam maior ângulo de esterço do guidão. Na traseira ambas são monoamortecidas, com regulagem apenas na pré-carga da mola. Mesmo mais cara, muitos detalhes ausentes na Ninja dão vantagem a GT-R: regulagem de distância do manete do freio, útil para pilotos com mãos pequenas, e as pedaleiras do piloto ajustáveis na altura e distância.
O painel de instrumentos da GT-R sugere esportividade, agrega conta-giros de leitura analógica a um conjunto de velocímetro, marcador de combustível, hodômetros e luzes espia num mostrador de cristal líquido. Já na Kawasaki todas as informações são oferecidas por um painel analógico composto por três mostradores de aspecto clássico, com conta-giros, velocímetro, marcador de combustível e temperatura do motor. "Sem entrar no mérito de precisão e facilidade de visualização, ao menos na estética o painel da Kasinski é mais bonito", comentou o leitor. Em números, a Ninja é 17 kg mais leve que a concorrente, o que já fazia diferença no simples ato de retirá-las do apoio lateral. A grande diferença de peso -- 154 kg da Ninja contra os 171 kg da GT-R – se reflete também no desempenho e na ciclística, com vantagem para a verdinha.
Os turistas curtiam o sol à beira mar quando atravessamos o trecho urbano de Balneário Camboriú. Para rodar entre os carros a Kawasaki mostrou agilidade, que se deve em parte ao pneu traseiro 130/70- 17 (mesma medida utilizada na Honda Twister 250) e também ao menor peso. Já a GT-R não apresenta a mesma desenvoltura, devido ao maior peso, o guidão que não facilita as manobras e o pneu mais largo na traseira (150/70-17). Ambas utilizam as mesmas medidas de pneu na frente, 110/70-17. Porém, nas curvas mais rápidas da Interpraias a GT-R ficou à vontade. A posição de pilotagem esportiva e o pneu mais largo transmitem mais segurança em velocidades elevadas, tornando o comportamento da moto mais estável e previsível. Para o uso diário o conjunto ciclístico da Ninja é sem dúvida mais equilibrado, pois alia agilidade e conforto. Falando em conforto, levar garupa na Ninja só em último caso, já que o espaço é pequeno e o assento duro, como numa verdadeira esportiva. No exterior, entre uma ampla linha de acessórios existe até a tampa para cobrir o assento e deixar a aparência mais racing. Já a bagagem conta com a ajuda de ganchos para a fixação dos elásticos. Nesse quesito a GTR sacrifica menos o garupa, embora também não seja confortável: tem mais espuma e alça para se segurar.
Chocha
Nos motores, apesar de semelhanças como a utilização de dois cilindros e oito válvulas (quatro por cilindro), as arquiteturas e comportamentos são completamente diferentes. A GT-R 250 utiliza motor de dois cilindros posicionados em V a 75º com refrigeração mista de ar e óleo e alimentação por carburador. A potência máxima declarada é de 32,5 cv a 10.000 rpm e o torque máximo de 2,16 kgf.m a 7.500 rpm. O motor da Kawasaki possui dois cilindros paralelos e o movimento alternado dos pistões ajuda na diminuição da vibração. A alimentação também é feita por carburador (a versão que será importada oficialmente terá injeção eletrônica), mas usa refrigeração líquida. A potência máxima é de 31 cv a 11.000 rpm e o torque de 2.24 kgf.m surge a 8.200 rpm.
Ainda que os números dêem vantagem à GT-R, na prática foi justamente o motor que não ofereceu a mesma esportividade sugerida pela ciclística. Falta torque para retomadas em baixa rotação e o desempenho nas altas rotações é comprometido pelo maior peso e uso do pneu mais largo na traseira, que aumenta a resistência à rolagem. "O desempenho da Ninja é sem dúvida melhor", comentou Emídio Ribeiro, ao descer da GT-R. Na Ninjinha, a sensação é de um motor mais solto. O índice de vibração é quase imperceptível e como há torque presente desde as baixas rotações, com o menor peso tudo fica mais fácil.
No caminho de volta a Florianópolis, sentido Sul, a serra até a Baía de Tijucas privilegiou quem estava com a Ninja. Além de desfrutar de mais conforto, ainda tinha a vantagem de trocar menos de marcha mesmo com o câmbio de seis velocidades. Isso devido ao torque mais linear, que pedia menos reduções. Na GT-R, o câmbio de cinco marchas é constantemente utilizado e as relações são mais longas. "Se não trabalhar o motor com giro alto a GT-R fica chocha", comentou o leitor.
Na hora de frear a GT-R mostra que seus freios não possuem apenas efeitos estéticos. Os dois enormes discos de 300 mm na dianteira, com pinça de dois pistões, e disco de 230 mm na traseira também com pinça de dois pistões (os mesmo utilizados na Comet 650), apresentam desempenho digno de grandes esportivas, porém no início são bruscos e podem assustar os distraídos. A Ninja, com um disco de freio de 290 mm na dianteira e disco de 220 mm na traseira, ambos com pinça de dois pistões, também oferece segurança nas frenagens. O conjunto apresentou funcionamento mais suave e progressivo.
Assim como na Europa, a Kawasaki é cerca de 20% mais cara que a Kasinski. O preço sugerido da GT-R no Brasil é de R$ 17.399, quando a Ninjinha é encontrada apenas nos importadores independentes por R$ 21.000. Em breve o modelo será comercializado pela Kawasaki do Brasil, porém o preço oficial ainda não foi divulgado.